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terça-feira, 2 de junho de 2015

Fantasia ou realidade?

Bom dia!!!

Bem, estou introduzindo um novo marcador (Reflexões para o dia), que penso, poderá trazer para você, querido leitor, além de uma ampliação de consciência, um novo ânimo para o seu dia a dia. Algo mais prático, mais aplicável.
Então vamos lá! Hoje quero falar de comunicação. Podemos nos comunicar de várias formas, pela linguagem, pela arte, música,  dança, e tantas outras formas de expressão. No contato íntimo, a linguagem é a mais utilizada, contudo, temos visto que até essa tem se perdido nas relações.
Comunicação é contato, e "Contato" (conceito muito utilizado em GT) é toque, é presentificação, é campo, é interação, tudo isso também é linguagem, é comunicação.
Como está a sua minha comunicação?
Tudo começa assim:
- ah, você devia saber que eu gosto disso e que as coisas devem ser assim...
- ah, mas como eu ia saber se você não me falou...
- e precisava?
- claro, eu não adivinho!
A grande problemática das relações consiste basicamente, não unicamente, devo ressaltar, na comunicação. Uma comunicação fluída requer clareza, transparência, verdade. O que acontece é que muitos relacionamentos contam com um elemento pouco, ou nada funcional: a adivinhação. Sim! O que está no imaginário se torna a realidade, e como na maioria das vezes não o é, as reações se mostram logo em seguida; brigas, desavenças, afastamento, rancor, ressentimento, e por aí vai. Algo simples, que poderia ser resolvido numa simples checagem, numa pergunta, ou num posicionamento, torna-se um muro entre casais, amigos e íntimos.
Escolha falar, perguntar, conferir o que pensa sobre algo, alguém. Tire da fantasia, traga para o verbal, para o dialógico, esclareça, confirme suas percepções sem deduções. Dê a chance ao outro de lhe conhecer, de saber o que gosta, o que deseja, o que lhe incomoda, o que pensa, como se sente, o que lhe ofende, o que espera dele (a).
Não leve tudo para o pessoal, não projete no outro você.
Fica a dica, espero ter ajudado.

Ara Brandes

quarta-feira, 12 de março de 2014

Existência Borderline

Acho importante trazer esse tema, muito embora, na visão gestáltica, o diagnóstico seja apenas uma parte do todo, e não o todo. Escolho junto com vocês, no entanto dá uma olhada nessa parte e quem sabe elucidar e construir um entendimento com vocês que nos ajude a compreender o jeito de viver borderline, e com isso organizar um todo de uma nova forma, em uma nova gestalt, quem sabe.
O existir borderline, é um existir sofrido e instável. O mundo é mal, é preciso ser mal na visão border . As pessoas são cruéis, é preciso ser cruel. O indivíduo portador dessa patologia segue a vida, muitas vezes inconsciente de que essas não são construções saudáveis de pessoa, mundo, de vida.Ver o mundo por essa lente, é ver um mundo aterrador, sem saída, sem escolhas, sem altruísmo. Um mundo que precisa de muros e defesas para "prevenir" aquilo que eles mais temem acontecer, o abandono. O paradoxo, no entanto, é que o que temem, é o que fazem acontecer. Amar e ser amado é perigoso demais nessa vivência.
Não funciona existir assim.
Borderline, segundo a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa, significa fronteiriço. "Toda pessoa border vive no limite de uma hemorragia emocional; vez por outra sangra a alma e, não raro, o próprio corpo", e as vezes, também, as pessoas ao redor.
Borders são limítrofes, vivem entre a neurose e a psicose. Os que estão borders, margeiam também entre outros transtornos mentais, como  transtorno de ansiedade, estresse pós traumático, transtorno de personalidade anti social, depressão, ciclotimia, bipolaridade, TDAH, apresentam sintomas de outros quadros psiquiátricos, e por isso o diagnóstico se torna ainda mais complexo.
O humor no quadro borderline é oscilante a maior parte do tempo. Tanto podem deprimir por um simples desafeto com alguém, como num mesmo dia podem se sentir "ótimos". Podem variar da alegria extrema, à tristeza profunda, é nesses picos que devem ser assistidos com maior cautela. Entram na euforia num atmo de segundo, simplesmente por um surgimento de uma nova possibilidade, uma boa notícia,  tão rápido e intenso quanto deprimem se algo mudar. Ficam vulneráveis ao ambiente. Suas fronteiras  de contato são frágeis. 
Ana Beatriz Barbosa, diz  que ser (na minha visão estar), border  é  um jeito de sentir, pensar e agir.  O Borderline, enquanto nesse quadro, sofre de um vazio existencial profundo, sente-se confuso quanto a sua identidade, personalidade, e por isso até se machucam para se sentirem existindo. 
Entendo que essa é uma forma de existir, claramente disfuncional e sofrida e que deve ser investigada, e discutida, para buscarmos uma melhor compreensão e ajuda para a sociedade. Um borderline é capaz de influenciar pelos seus atos, não apenas a si mesmo, mas a um sistema inteiro, uma sociedade inteira, se não cuidado.
Toda patologia tem seus ganhos secundários. Os ganhos para um border, mesmo que inconscientes, são reais, pois o levam a vitimizar-se, justificar-se para o não fazer, e até para o fazer o mal, o não "dar conta", o machucar-se, machucar o outro,  tudo é "explicável". É um ganho diria bem descompensador a longo prazo, para sua integridade psíquica. A agressão quando não volta para si, volta-se para o outro. Perdas, frustrações, fracassos relacionais constantes, fazem parte desse caminhar border, e por isso acho tão importante a conscientização e a busca de ajuda profissional. O individuo nessa condição não acredita em si mesmo, nem se valoriza, ele mesmo se descredencia. Tem baixa auto estima. É preciso no entanto, que essa pessoa queira enfrentar esse universo, oculto dentro de si mesmo, para que possa encontrar novas formas de lidar e olhar a vida. E não é fácil reconhecer-se assim, mas necessário para o cuidado que precisa.
Uma das grandes dificuldades de estar na vida "border", é o lidar com as adversidades, frustrações, rejeições, pois isso é inevitável, pois a vida carrega essa dinâmica. Para todos nós é difícil, mas para um border, a rejeição e o abandono são extremamente sentidos, sofridos e expressados ao extremo. O fato de viver sempre no limite, na borda, e cheio, o deixa sempre a ponto de transbordar a qualquer estímulo. As relações afetivas são marcadas por intensidade, carga dramática e alta dependência afetiva. Seus parceiros são em geral agressivos, manipuladores e perversos, bem como ele se apresenta em algum grau.
Os borders vivem em crise em relação a sua identidade. Sentem-se instáveis, insatisfeitos, buscando sempre se identificarem com algum estereótipo. 
Cada um de nós pode eventualmente ter um ou outro sintoma desse transtorno, contudo, ter reações similares, não nos torna border. O estar border  abarca um conjunto de sintomas, por um tempo maior e duradouro. "Parecer border, não é ser border".
Eis aí, os critérios diagnósticos para identificar um borderline na clínica, segundo Ana Beatriz, e pelo DSM-IV. Deve ser observado este quadro comportamental, por um período de pelo menos um ano (em contextos sociais diferentes):

1- Impulsividade em pelo menos duas dessas áreas (gastos excessivos, promiscuidade, direção perigosa, abuso de drogas, compulsão alimentar etc.)
2- Ira inapropriada e intensa e dificuldade de controlá-la;
3-Instabilidade afetiva devido a uma grande reatividade do estado de humor;
4-Ideias paranoides transitórias relacionada a estresse ou sintomas dissociativos graves;
5-Alteração de identidade; instabilidade acentuada e resistente da autoimagem ou do sentimento do self;
6-Um padrão de relações interpessoais instáveis e intensas;
7-Esforços frenéticos para evitar um abondono real ou imaginário;
8-Ameaças, gestos ou comportamentos suicidas recorrentes ou comportamentos de automutilação:90% dos borderlines irão cometer uma tentativa de suicídio e, desses 10% serão bem sucedidos;
10- Sentimentos crônicos de vazio
E ainda, segundo Ana Beatriz Barbosa, existem os borders atípicos, ou seja, aqueles que apresentam algumas características do funcionamento border, mas são insuficientes para preencher todos os critérios necessários para o diagnóstico preciso.
O tratamento deve sem dúvida passar por um diagnóstico psiquiátrico e acompanhamento psicológico tanto com o paciente, como com a família. A psicoterapia para esses pacientes é imprescindível e funciona para proporcionar uma melhor qualidade de vida e autoconhecimento de seus limites e potencialidades. O borderline precisa ser amparado, compreendido e validado. Jamais, na minha concepção, rotulado e encerrado num diagnóstico. O Diagnóstico serve apenas para nortear um caminho de cuidado, não para reduzir um cliente a sintomas, a uma patologia. Ninguém é uma patologia. O indivíduo é um todo cheio de recursos e possibilidades de existência, é para isso que nós, como Psicólogos, devemos apontar: para a saúde
O terapeuta precisa estar preparado para ser testado, desafiado, rejeitado, desqualificado nesses atendimentos, pois esse tipo de paciente os testará e boicotará seu próprio tratamento, pois já espera ser abandonado e de alguma forma é isso que faz e provoca. Mas, para ajudá-los, precisamos prever e manter o vínculo sem entrar no sintoma dele, 
Achei importante sinalizar sobre essa patologia, pois muitas pessoas e famílias sofrem pela desinformação, ignorância, e preconceito. Saber sobre, faz ampliar a consciência individual e  sistêmica, e pode ser fonte  de ajuda para enfrentar tão dura existência.
Como Carl Rogers, acredito que somos um "vir a ser". Em algum momento pode-se estar vivendo border, ou, outro diagnóstico qualquer, mas o importante é que se cuidado e assistido, a vida do individuo pode ser mais feliz, aliviada e até transformada, em uma vivência mais saudável e significativa para si e para o mundo.
Cuide-se, busque ajuda o quanto antes.

Por Ara Brandes
Bibliografia consultada - SILVA, Ana Beatriz- Corações descontrolados:ciúmes, raiva, impulsividade - o jeito borderline de ser/  Rio de Janeiro: Objetiva, 2012



sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

SERÁ A VIDA UM BAILE DE MÁSCARAS?


 Qual máscara usar???
Acho impressionante a capacidade que o ser humano perdeu de ser ele mesmo.
Lendo o livro "Gente Tóxica", encontrei algo que achei relevante compartilhar, O autor aborda, além da questão relacionada a psicopatia, em como lidar com pessoas tóxicas, ele fala sobre máscaras. E sobre isso desejo escrever um pouco.
O autor acredita que em algum momento, todos nós, já nos utilizamos de máscaras para vivermos em sociedade. Entretanto, o problema talvez não seja o fato de se tê-las usado fortuitamente, mas o fato de se ter permanecido com elas como parte da identidade.
Diferencio aqui, e acredito que o autor também,  máscaras, de papéis sociais. Os papéis tem a ver com o desempenho, funções pertinentes a vida de uma pessoa e não com a personalidade desta, enquanto que a máscara, mescla-se com a personalidade do indivíduo, ela se confunde com a identidade.
Máscaras são usadas para esconderem coisas que rejeitamos em nós mesmos. São usadas para escondermos algo que julgamos "feio", "errado", embora muitas vezes não o seja. Há uma necessidade de passarmos algo aparentemente aceitável ao outro, pois precisamos ser aceitos pela sociedade, a todo o custo. A questão é que ao escondermos nossos problemas eles ficam insolucionáveis,  pois o que não se enxerga não se enfrenta, logo não há mudança,  pois mudanças são oriundas  da verdade.
O Autor descreve alguns tipos de máscaras:
Máscaras de poder. Quem usa essa máscara  tenta convencer os outros de sua influência, consideram-se amigos de todos, conhecem profundamente fulano e cicrano de tal; sentem-se como íntimos de todos,  poderosos, e na verdade não chegam nem perto disso.
Já as máscaras de superioridade são usadas por pessoas que precisam mostrar que tem títulos, fazem coisas importantes, precisam impressionar, sobressair, serem grandiosos, são ativistas, mas no final das contas, eles não conseguem produzir quase nada por si mesmos. 
E a máscara de vítima: essa é usada para mostrar sempre o sofrimento, a fatalidade, buscar piedade. São máscaras usadas por aquelas pessoas  que não assumem seus erros,  suas responsabilidades,  o outro é sempre o culpado por seus infortúnios, ele precisa ser o coitadinho (a). Não faz escolhas, está sempre em cima do muro, os outros escolhem por eles,os outros enfrentam, eles não. Sua felicidade não está em suas mãos, mas nas do outro.
As máscaras são prisões de identidade. É uma mentira sobre quem realmente somos. Elas se dissociam totalmente de nossa identidade, são sedutoras e facilmente aceitas. 
As máscaras nos impedem de vivermos as nossas verdadeiras sensações, percepções. Elas nos tiram o prazer real da vida, de sentir, de ser, de mostrar, de fazer o que queremos. Mas quero encorajá-los a mostrarem seus defeitos e suas virtudes, paguem o preço por serem quem são, não podemos ser quem não somos e ainda assim estarmos bem, saudáveis.
É preciso coragem, consciência, indignação e um forte desejo de mudança para retirarmos as máscaras. É um processo difícil, mas importante para encontrarmos a paz.
Acredito, assim como o autor, que uma vez livres das aparências, da fantasia, a força sairá, livre e espontânea para seguir seu curso. A fluidez voltará naturalmente. 
Por Ara Brandes

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Um Encontro Importante!



Você marcou uma viagem muito importante para se encontrar com alguém tão esquecido, e ignorado muitas vezes: você.  
  1. Começo perguntando qual o tamanho da sua mala?
  2. O que não quer levar nesta mala?
  3. O que não pode deixar de levar?
  4. Que ambiente você escolheu para este encontro?
  5. Quanto tempo você preparou para ter esse encontro?
  6. O que deseja dizer a essa pessoa que ainda não disse?
  7. Com quais sentimentos você se depara ao se lembrar desse encontro?
  8. O que você precisa enfrentar para ter esse encontro?
  9. Quais suas expectativas para tal encontro?
  10. Do que gosta nessa pessoa?
  11. Do que não gosta nela?
  12. O que espera que aconteça após esse encontro com você?
Vivemos em uma sociedade que se perdeu de si mesma. Fazemos coisas, reproduzimos comportamentos, reagimos automaticamente, consumimos "tudo", muitas vezes sem reflexão. Criamos defesas indestrutíveis diante da vida com medo de não darmos conta, e vamos "vivendo", sem nos conhecermos, sem lidarmos com sentimentos, frustrações, rejeições, vamos indo... Algumas vezes fazemos isso por repetição, porque aprendemos viver assim, outras vezes, conscientes, mas ameaçados por uma infância difícil, faltas essenciais, traumas, medos reais ou fruto do imaginário, enfim, vamos "deixando a vida nos levar", a questão é para onde a vida irá nos levar? Para onde está nos levando? Que viagem é essa que estamos fazendo? Tem um destino? Tem um plano? Tem um objetivo?
Buscar nosso eixo, saber quem somos, como nos tornamos quem somos, e, enfrentarmos os nossos fantasmas, nossas neuroses nos colocará em um universo de possibilidades, antes incubadas, de crescimento pessoal, social e espiritual.
Meu querido leitor, encontrar-se com você mesmo poderá ser o melhor encontro que você fará em sua vida, pois ele modificará você, seu "campo", "organismo", vivências, contatos, realizações. Não "viva" como quem não sabe para onde vai, o que é, e o que pode fazer? 
Encontre-se primeiro com você mesmo, depois siga, sabendo para onde vai, porque sabe quem é, e o que pode fazer. Essa é uma viagem muitas vezes longa, vai depender muito de você.
Por Ara  Brandes B. da Silva

terça-feira, 15 de maio de 2012

Meu baú


Se você puder, visualize junto comigo uma cena: um baú antigo, lindo, mas fechado, até mesmo meio empoeirado, e com a fechadura também emperrada. Nele estão muitos tesouros escondidos e esquecidos, mas certo dia o dono dele decidi, pela necessidade, que é o momento de abri-lo...
O que tem neste baú é de muito valor, mas para abri-lo o dono precisará passar por alguns processos: 1º encará-lo; 2º buscar ajuda de alguém para abri-lo; 3º ter coragem para ver como ele está e o que pode ser feito...
Com a ajuda de  alguém, de confiança, o dono do baú começa devagar e com cuidado a abri-lo.  A pessoa de confiança sente a dificuldade de abri-lo, mas mantém a calma, respeita o momento, continua, às vezes, lentamente, mas insisti com responsabilidade. O dono do baú sabe que precisa passar por tudo isso e deseja usar seus tesouros, mas como usá-los se não descobri-los? Ele faz isso até para descobrir e reeditar sua própria história. É encorajado por essa pessoa de confiança a prosseguir no processo, e continua a retirar as coisas, uma a uma, no seu tempo, com respeito, sem juízo de valor, com responsabilidade.
Acredito que ao abrir o baú poderá se ver diante de um sentimento:  a tristeza. Ele a olha, acha-a feia, vergonhosa, parece até fraqueza, mas resolve mostrá-la à pessoa de confiança. E ao fazê-lo, descobre o benefício de ter dividido com alguém seu sentimento, e se surpreende ao se sentir aliviado, e até esperançoso. Continuando a mexer no baú encontra  uma outra coisa: angústia! Mais uma vez decidi mostrar e compartilhar. Sente, sofre, mas tem uma boa sensação de ter sido ouvido com atenção e respeito. Entende que já pode avançar e pode falar de seus conflitos. Ao longo dessa trajetória descobre sentimentos de desvalor, de inadequações que antes ignorava. Expõe-os e estranhamente, sente-se compreendido, acolhido. Jamais imaginou que alguém pudesse lhe compreender. Avançando no processo se depara com faltas essenciais, buracos na alma e pensa em desistir do processo... cansa! Contudo, encontra sentido em continuar no processo de busca. Sofre  suas faltas ali, acompanhado e cuidado; chora, encara sua dor, mas intrigantemente, sente-se confortado. Permite-se receber , ser ajudado, ser amado e amar novamente. Ao fazê-lo algo muda e lhe dá  mais coragem. Contudo, ainda, sente que tem coisas pendentes e decidi se mostrar um pouco mais. Revela seus medos, mágoas, sentimentos de desamor, ansiedade, confusão... e aos poucos vai se desapegando dessas coisas. Aprende a resinificar seus problemas, faltas ali, junto com esse alguém, de muita confiança. De repente, pela primeira vez, enxerga os tesouros que têm dentro de si. Vê que seus tesouros estavam misturados com outras coisas e sem ajuda não conseguiria descobri-los, nem valorizá-los. Aí, nota que ao longo do processo algo de bom está aparecendo e acontecendo mesmo!
Então, depois de tempos encarando aquele baú e enfrentado sua grande desorganização, o dono do baú começa a perceber que seus medos podem ser substituídos por coragem; que seus conflitos podem ser resolvidos; descobre, também, que pode ter uma nova releitura deles. Percebe que as mágoas se modificaram e deram lugar a sentimentos mais saudáveis e enriquecedores; que as introjeções adoecidas, não bem digeridas, foram transformadas; os  juízos severos, castradores, perderam a força e deram lugar a leveza, a saúde. Percebe, então, que a tristeza pode ser compartilhada, mas também vivenciada sob um olhar de mobilização etc.  Chegando ao fim do baú, percebe que ganhou um novo sentido para a dor, para o seu existir. Ganhou força para prosseguir, para sonhar, para realizar e para mudar. Agregou para si novas coisas, destruiu outras e, por fim, viu emergir o seu melhor. Sente-se como único, rico e cheio de vigor.  E sabe que precisa manter tudo que conquistou. Nada foi criado, tudo isso estava ali, apenas encoberto!!!
Agora, o baú está em ordem, está vistoso! Seu valor foi revelado. Tem sentido de existir e entende o que é relevante para si. Agora ele pode tirar de seu baú coisas boas, usá-las em seu beneficio e no benefício dos outros. Tem consciência de sua força e de sua fraqueza, pode lidar melhor com elas. Agora, ele vai, anda, às vezes até corre para o que precisa, só para “ser” e para fazer o seu melhor.
Isso é o que conceituo como Psicoterapia!
Acredito que a Psicoterapia é um instrumento fundamental na promoção e prevenção da saúde psíquica. E, claro, funciona como remediativa também.

Por Ara Brandes B. da Silva

Confira também o blog: arabrandes-restaurando.blogspot.com

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Introdução à Gestalt-Terapia

Gestalt-Terapia


A GT (Gestalt Terapia) surgiu a partir de críticas à Psicanálise, e Fritz Perls, também psicanalista na época, foi o mentor principal de seu nascimento. 
Na abordagem GT, o indivíduo é reconhecido em sua totalidade, como único, singular, e capaz de encontrar suas próprias respostas no processo psicoterápico. Perls em crítica à Psicanálise estabelece um novo modelo de Terapia, com influências da Fenomenologia, humanismo e existencialismo. Tal abordagem valoriza o potencial do individuo e sua relação com o meio. É na relação com o terapeuta que algo é construído, vivenciado e transformado também. Na GT, leva-se em conta principalmente o as sensações, e percepções que se apresentam dentro do processo terapêutico. Esta abordagem também proporciona ao cliente a descoberta de suas capacidades e de suas mobilizações internas e, pode-se dizer que este modelo viabiliza o cliente a encontrar seus próprios recursos no enfrentamento de seus problemas e situações.


“A Gestalt terapia, cuja melhor tradução é terapia da forma, diz que todas as forças dentro e no campo interagem entre si, dando sentido próprio ao que a pessoa pensa e sente. O emergente, no processo de terapia, encontra-se no aqui e agora e passado, presente e futuro apenas se relacionam e só fazem sentido se a pessoa assim o quiser”.



Na abordagem gestáltica é fundamental a interação do indivíduo com o organismo e o meio, ou seja, para que o indivíduo se realize, feche suas gestalts e deixe emergir outras figuras é preciso que consiga buscar dentro de si e do meio o que precisa para se satisfazer como pessoa, dentro de sua interação com seu contexto, organismo (1977).
Um conceito importante  na abordagem GT é a auto regulação. Perls  (1977) diz ser esta cíclica, pois há sempre novas necessidades emergindo na vida do ser humano, bem como resoluções antigas se apresentando, considera-se aí a formação do ciclo da Gestalt. O ciclo gestáltico quando bem resolvido, resulta em um fechamento de Gestalt. Da mesma forma se o ciclo não é resolvido a Gestal fica incompleta ou aberta e sempre pedindo resolução. Uma Gestalt fechada significa paz interna para aquele ciclo, e a possibilidade de novas configurações, e de novas figuras emergirem. Na GT se entende que existem duas possibilidades de se lidar com as situações da vida: pode se lidar pelo contato, ou pela fuga. Se escolher o contato é possível se chegar a satisfação, ao fechamento, se o segundo, poderá haver um empobrecimento de figuras, de realizações, de fechamentos.
Nessa abordagem, Terapeuta e cliente constroem juntos a terapia, e o terapeuta é apenas um facilitador no processo de awareness, de auto-conhecimento, de resoluções, de fechamentos e aberturas de gestalten. 

Continua...

Por Ara Brandes




terça-feira, 24 de abril de 2012

Crise


Imagine uma pessoa vivendo o seu dia normalmente. De repente, essa pessoa recebe a notícia de que alguém muito próximo, que amava muito, sofreu um trágico acidente e faleceu! E agora? Como ela lidará com tal situação? Como estará se sentindo? O que pode fazer?
Bem, neste exemplo hipotético podemos conjecturar que a pessoa que recebeu a terrível notícia poderá lidar ou reagir ao fato de várias formas, saudáveis ou não. Como estamos explanando sobre crise, consideramos essa uma possibilidade factível para tal evento. 
A crise desencadeia sintomas físicos e psicológicos, taquicardia, sudorese, dor estomacal, ataques de ansiedade, confusão mental, torpor, medo, insônia, anedonia, terror, angústia, somatizações, entre outros. A crise provoca certo desequilíbrio temporal e pode comprometer o funcionamento do sujeito, durante tal período, podendo levar até a uma depressão.
Crise  “refere-se a uma situação de mudança a nível biológico, psicológico ou social, que exige da pessoa ou do grupo, um esforço extra para manutenção do equilíbrio ou estabilidade emocional” (Dicionário Livre). Corresponde a momentos da vida de uma pessoa ou de um grupo em que há ruptura na sua homeostase psíquica e perda ou mudança em sua organização intrapsíquica. A crise pode se caracterizar por fase de perda, ou de mudanças súbitas e inesperadas. Como uma pessoa reage e qual atitude toma neste momento é diferencial para seu restabelecimento emocional. E a forma que cada pessoa vivencia e elabora na crise vai depender de sua capacidade e estrutura psicológica.
Crises em sua maioria tem algum fator desencadeante, como uma enfermidade pessoal ou familiar, uma separação, a perda de alguém importante, vida financeira, solidão, uso de drogas, novos desafios, mudanças, fatalidades, descobertas, enfim... tudo isso pode contribuir para o aparecimento de uma crise, para a desestabilização emocional de uma pessoa.
Para dar suporte à crise é importante buscar um atendimento profissional Psicoterápico e às vezes Psiquiátrico. Existem também os atendimentos emergenciais como na abordagem Rogeriana, que visam fornecer ao Cliente um acolhimento pontual, dentro da própria crise. Esse atendimento emergencial ajuda, e serve de suporte para o abrandamento da crise e reorganização mental do indivíduo, mas é apenas um paliativo, e por isso o cliente deve continuar após crise. 
Ninguém está imune à crise. As circunstâncias e a dinâmica da vida estão sempre nos testando e nos colocando diante de desafios, de descobertas pessoais, de conflitos intrapessoais e familiar. Assim, o que considero importante dentro de um processo de crise é, primeiro:  fique atento aos sinais, aos sintomas que o corpo emite; segundo, busque ajuda sempre que possível, não deixe chegar no limite, e por último,  não negue seus sentimentos e necessidades, entre em contato com suas próprias demandas internas. É como uma emergência física, ao percebe-la, o que se faz? Corre-se logo para o pronto socorro. No caso da crise Psicológica, é o mesmo, busca-se ajuda, alívio e orientação Psicológica para aquele  momento,  o quanto antes. 
Para finalizar é importante ressaltar que toda crise carrega consigo um enorme potencial de mudança, de ajuste, de reconstrução, por isso, embora difícil podemos considerá-la também sobre este aspecto positiva.

Por Ara Brandes,em 24.04.2012

Bibliografia consultada
ROSENBERG, Raquel Lea – organizadora -. Aconselhamento centrado na Pessoa – São Paulo: EPU, 1987.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Para quê Psicologia?



A Psicologia do senso comum está na vida,  na forma que nos organizamos enquanto sociedade, em como pensamos, fazemos, em como existimos e como nos construímos a cada  dia, a cada contato, a cada interação.
A Psicologia tem como objeto de estudo o homem, no entanto, esse objeto é também compartilhado de forma geral pelas ciências humanas. Conforme alguns estudiosos o objeto de estudo da Psicologia é a vida dos seres humanos e dos fenômenos Psicológicos que o abraçam. Os Fenômenos Psicológicos dizem respeito ao mundo interno do indivíduo, construído por suas experiências, relações sociais, constituições biológicas, saberes, vivências do mundo, enfim (BOCK,  A. et. al. 1997). Um Psicólogo pode estudar do comportamento à personalidade dependendo da abordagem que seguir. 
A Psicologia então busca preencher os vazios das demais ciências humanas, com o seu olhar voltado para a psiquê, para a alma, para o sofrimento interno de cada indivíduo, sociedade, organização e instituição, visando proporcionar pelo seu estudo novas formas de se vivenciar conflitos, experiências, adaptações, crises, dificuldades, deficiências, de maneira crítica, científica, metódica e humanizada.
A Psicologia nos ajuda como sociedade a enfrentarmos a vida e suas demandas atentando para o potencial, para a saúde, para as possibilidades, para o "vir a ser" de Carl Rogers. É sempre uma construção e uma reconstrução do humano diante da vida.
A Psicologia pode ser compreendida como um instrumento facilitador no desenvolvimento psicossocial de cada sujeito e ou organização, tem uma função social abrangente e indispensável para compreensão do humano.  A Psicologia tem uma ampla atuação, desde a Psicologia Escolar, Hospitalar, Clínica, Organizacional, Institucional etc. Cada dia mais seu crescimento é percebido na sociedade, portanto, como profissionais, temos o dever de contribuir, de somar com o nosso olhar, saber e vivência, de forma prática, de acordo com as nossas escolhas e sensibilidade. Para a sociedade a Psicologia é uma resposta para  necessidades antes negadas, entre elas, a subjetividade e suas implicações no existir.

Por Ara Brandes