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terça-feira, 15 de maio de 2012

Meu baú


Se você puder, visualize junto comigo uma cena: um baú antigo, lindo, mas fechado, até mesmo meio empoeirado, e com a fechadura também emperrada. Nele estão muitos tesouros escondidos e esquecidos, mas certo dia o dono dele decidi, pela necessidade, que é o momento de abri-lo...
O que tem neste baú é de muito valor, mas para abri-lo o dono precisará passar por alguns processos: 1º encará-lo; 2º buscar ajuda de alguém para abri-lo; 3º ter coragem para ver como ele está e o que pode ser feito...
Com a ajuda de  alguém, de confiança, o dono do baú começa devagar e com cuidado a abri-lo.  A pessoa de confiança sente a dificuldade de abri-lo, mas mantém a calma, respeita o momento, continua, às vezes, lentamente, mas insisti com responsabilidade. O dono do baú sabe que precisa passar por tudo isso e deseja usar seus tesouros, mas como usá-los se não descobri-los? Ele faz isso até para descobrir e reeditar sua própria história. É encorajado por essa pessoa de confiança a prosseguir no processo, e continua a retirar as coisas, uma a uma, no seu tempo, com respeito, sem juízo de valor, com responsabilidade.
Acredito que ao abrir o baú poderá se ver diante de um sentimento:  a tristeza. Ele a olha, acha-a feia, vergonhosa, parece até fraqueza, mas resolve mostrá-la à pessoa de confiança. E ao fazê-lo, descobre o benefício de ter dividido com alguém seu sentimento, e se surpreende ao se sentir aliviado, e até esperançoso. Continuando a mexer no baú encontra  uma outra coisa: angústia! Mais uma vez decidi mostrar e compartilhar. Sente, sofre, mas tem uma boa sensação de ter sido ouvido com atenção e respeito. Entende que já pode avançar e pode falar de seus conflitos. Ao longo dessa trajetória descobre sentimentos de desvalor, de inadequações que antes ignorava. Expõe-os e estranhamente, sente-se compreendido, acolhido. Jamais imaginou que alguém pudesse lhe compreender. Avançando no processo se depara com faltas essenciais, buracos na alma e pensa em desistir do processo... cansa! Contudo, encontra sentido em continuar no processo de busca. Sofre  suas faltas ali, acompanhado e cuidado; chora, encara sua dor, mas intrigantemente, sente-se confortado. Permite-se receber , ser ajudado, ser amado e amar novamente. Ao fazê-lo algo muda e lhe dá  mais coragem. Contudo, ainda, sente que tem coisas pendentes e decidi se mostrar um pouco mais. Revela seus medos, mágoas, sentimentos de desamor, ansiedade, confusão... e aos poucos vai se desapegando dessas coisas. Aprende a resinificar seus problemas, faltas ali, junto com esse alguém, de muita confiança. De repente, pela primeira vez, enxerga os tesouros que têm dentro de si. Vê que seus tesouros estavam misturados com outras coisas e sem ajuda não conseguiria descobri-los, nem valorizá-los. Aí, nota que ao longo do processo algo de bom está aparecendo e acontecendo mesmo!
Então, depois de tempos encarando aquele baú e enfrentado sua grande desorganização, o dono do baú começa a perceber que seus medos podem ser substituídos por coragem; que seus conflitos podem ser resolvidos; descobre, também, que pode ter uma nova releitura deles. Percebe que as mágoas se modificaram e deram lugar a sentimentos mais saudáveis e enriquecedores; que as introjeções adoecidas, não bem digeridas, foram transformadas; os  juízos severos, castradores, perderam a força e deram lugar a leveza, a saúde. Percebe, então, que a tristeza pode ser compartilhada, mas também vivenciada sob um olhar de mobilização etc.  Chegando ao fim do baú, percebe que ganhou um novo sentido para a dor, para o seu existir. Ganhou força para prosseguir, para sonhar, para realizar e para mudar. Agregou para si novas coisas, destruiu outras e, por fim, viu emergir o seu melhor. Sente-se como único, rico e cheio de vigor.  E sabe que precisa manter tudo que conquistou. Nada foi criado, tudo isso estava ali, apenas encoberto!!!
Agora, o baú está em ordem, está vistoso! Seu valor foi revelado. Tem sentido de existir e entende o que é relevante para si. Agora ele pode tirar de seu baú coisas boas, usá-las em seu beneficio e no benefício dos outros. Tem consciência de sua força e de sua fraqueza, pode lidar melhor com elas. Agora, ele vai, anda, às vezes até corre para o que precisa, só para “ser” e para fazer o seu melhor.
Isso é o que conceituo como Psicoterapia!
Acredito que a Psicoterapia é um instrumento fundamental na promoção e prevenção da saúde psíquica. E, claro, funciona como remediativa também.

Por Ara Brandes B. da Silva

Confira também o blog: arabrandes-restaurando.blogspot.com

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